quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Quem quer ser ministro? Se você é deputado federal, filiado ao PMDB, há vagas abertas

Essa oferta durou menos de 24 horas. Dilma mudou a proposta, e a negociação com as alas do partido empacou. Lula aproveitou a confusão para pressionar pela troca de Levy por Meirelles, a saída de Mercadante da Casa Civil e a demissão de Cardoso
 
Andrei Meireles
  • sábado, 26 de setembro (10:40)
O deputado federal Carlos Eduardo Marun (PMDB/MS) é um engenheiro gaúcho que faz carreira política no Mato Grosso do Sul. Com seu vozeirão, ele chama a atenção nas conversas no fundo do plenário da Câmara, pelas contundentes críticas ao governo. Também integra a ala do PMDB que defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
No final da tarde da terça-feira (22), Marun entrou na reunião da bancada do PMDB na Câmara, no auditório Nereu Ramos, aparentemente disposto a votar contra qualquer proposta de apoio ao governo. Ali, o líder do partido, Leonardo Picciani (RJ), abriu os trabalhos informando que a presidente ofereceu aos deputados do PMDB o tradicional Ministério da Saúde – com o maior orçamento da Esplanada e dezenas dos mais cobiçados cargos públicos – e uma nova pasta, a da Infraestrutura, juntando a Aviação Civil e os Portos.
Picciani foi direto ao ponto. Perguntou a dezenas de deputados quem gostaria de ter o nome incluído em uma lista a ser levada a Dilma, que escolheria dois deles como ministros. Um método inusitado. Bastava se inscrever para ter o nome submetido ao crivo da presidente da República. De repente, uma bancada que, desde o primeiro mandato de Dilma Rousseff, choramingava por ser tratada como carta fora do baralho, empolgou-se com a perspectiva de finalmente ter chegado ao poder. Contagiou até quem estava na oposição.
Sem nenhum constrangimento, Carlos Marun se inscreveu. Para surpresa geral, ele fez discurso como candidato a ministro da Infraestrutura. Passado o impacto, ele foi cobrado por sua turma, favorável ao impeachment, e cancelou a inscrição. Outros entraram na lista com variados propósitos. Um deles, Saraiva Felipe, com o intuito de refazer a própria história.
Saraiva Felipe foi ministro da Saúde no primeiro governo Lula, enrascou-se no escândalo dos sanguessugas, depois apareceu numa gravação contando como usava seu mandato e sua influência no ministério para atuar como “despachante” dos interesses de grandes laboratórios. Dilma pediu a Picciani para não indicar Saraiva. “Ele foi vetado pela Abin”, afirmou um líder governista, como se isso tivesse alguma relevância. Saraiva não sobrevive sequer a uma consulta ao Google.
Como vazou o veto a Saraiva Felipe, a emenda ficou bem pior que o soneto. Dilma teve que pagar o mico de telefonar para ele e negar que o estivesse vetando. Depois da reunião da bancada, Picciani incluiu o nome de Saraiva em uma lista tríplice para o Ministério da Saúde. E outros deputados mineiros, como Newton Cardoso Júnior e Mauro Lopes, para a Infraestrutura. Queria, assim, acertar uma conta de campanha quando se elegeu líder com a vantagem de apenas um voto e o apoio decisivo dos colegas de Minas.
Na realidade, os mineiros entraram na lista apenas para compor o cenário. Com a benção de Eduardo Cunha, Picciani queria emplacar os deputados Manoel Junior (PB) e José Priante (PA), respectivamente, na Saúde e na Infraestrutura. Quando fechou o acordo com Picciani na noite da segunda-feira (21), Dilma avaliou que estava pagando uma pechincha para barrar um eventual processo de impeachment na Câmara.
Para os petistas palacianos, depois de meses de guerrilha contra Michel Temer e sua tropa, para a conquista do suposto exército do vice-presidente da República na Câmara, qualquer preço era barato. Empolgada com seu desempenho na articulação política, Dilma se sentiu à vontade para ir adiante. Na manhã da quarta-feira (23), chamou Temer, fez elogios ao desempenho do ministro Eliseu Padilha, e pediu ao vice para tentar incluir o nome dele na lista de Picciani. Parece ter esquecido de que estava falando com um profissional da política.
Temer se desvencilhou com facilidade da armadilha, avaliada por seu grupo como amadora. O vice simplesmente desaconselhou a reforma ministerial, e sugeriu que, se Dilma quisesse levá-la adiante, poderia tomar a iniciativa de propor a Picciani a inclusão de Eliseu Padilha na sua lista de indicações. Foi um pouco além, em um lance premeditado, combinado com aliados. Disse a Dilma que, independentemente do acerto com a bancada na Câmara, ela deveria manter os atuais ministros filiados ao PMDB. A exceção seria Edinho Araújo, atual ministro dos Portos, que voltaria para a Câmara para cumprir o mandato de deputado federal.
Nesse desenho, além de seus próprios apadrinhados – Eliseu Padilha e Henrique Alves –, Temer incluiu a substituição de Edinho Araújo pelo ministro da Pesca, Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho. Como sempre, sua sugestão entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Mas Lula entendeu o recado. Entrou no circuito e enquadrou Dilma: “Melhor perder ministérios do que a Presidência”. O Instituto Lula desmente que o ex-presidente tenha dito essa frase. O fato é que, depois da conversa com Lula, Dilma desistiu de criar o Ministério da Infraestrutura e resolveu manter Padilha na Aviação Civil e deslocar Helder Barbalho para o Ministério dos Portos.
Ao tentar agradar Temer e Jader Barbalho, Dilma simplesmente descumpriu o acordo com Picciani. Com olho gordo nas mil e uma possibilidades no Ministério da Saúde, o líder do PMDB parecia relevar a rasteira. Estava eufórico na manhã da quinta-feira (24).  No mesmo embalo, o deputado Manoel Júnior, com o apoio de Picciani e a simpatia de Eduardo Cunha, mal conseguia disfarçar a empolgação com sua virtual nomeação para o Ministério da Saúde. Tinha planos, por exemplo, de exigir o controle absoluto da pasta, com a substituição dos integrantes das três alas petistas que comandam setores estratégicos do ministério.
Mesmo assim, Manoel Júnior estava cauteloso. Ele até pediu calma aos seus parentes na Paraíba que já queriam comemorar. Sua única preocupação foi a divulgação de um vídeo, gravado em agosto, em que defendeu, numa entrevista a um blog, a renúncia da presidente Dilma. Ele diz que o trecho divulgado estava fora de contexto. Na hora do almoço, Manoel Júnior havia pedido seu prato predileto em um badalado restaurante de Brasília. Estava feliz. Recebeu, então, um telefonema de Picciani. “Fala, meu líder”, atendeu, sorridente. Segundos depois ficou lívido.
Picciani avisou que estava desfeito o acordo com Dilma. O que aconteceu? Os deputados indicados para o Ministério da Infraestrutura estavam revoltados com o mico que estavam pagando, disputando um cargo inexistente, como se tivessem comprando um terreno na lua. “Se ela modificar a proposta, vou retirar as indicações”, ameaçou Picciani, em entrevista à imprensa. Dilma, então, virou a bolinha no pingue-pongue do PMDB. Adiou a reforma ministerial e viajou para os Estados Unidos. “Nessas circunstâncias, um presidente só viaja se estiver seguro da situação ou completamente inseguro”, comentou o deputado Miro Teixeira, um opositor de Dilma que é contra o impeachment.
Se a dificuldade de Dilma fosse só o PMDB, estava fácil. Nada que mais um ou dois ministérios não resolvessem. O problema de Dilma se chama Lula. Ele quer substituir o ministro Joaquim Levy por Henrique Meirelles, tirar Aloizio Mercadante da Casa Civil e demitir o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Além disso, quer um ajuste fiscal diferente, acompanhado de medidas que supostamente estimulem o crescimento da economia. Dilma resiste à pressão de Lula. Uma atrapalhada petista pode ter lhe dado fôlego.
Por ser líder do PT na Câmara, o deputado Sibá Machado tem acesso a importantes conversas, acompanha inclusive as conspirações da turma de Lula para enquadrar Dilma. Sibá, um político simplório, resolveu virar protagonista da política nacional. Ele tentou articular os partidos da base governista contra Joaquim Levy, Mercadante e Eduardo Cardozo. Virou piada. Até aqui, a sorte de Dilma é que seus adversários erram quase tanto quanto ela.

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Enviado por: Frederico Santana Rick <fredsantanarick@gmail.com>

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